Em suaíli, a palavra Uhuru significa “liberdade”. É também o nome do pico mais alto do Monte Kilimanjaro. Conhecido como o “Teto da África”, ele toca as nuvens a quase 6.000 metros de altitude. Não é uma escalada particularmente técnica, mas, como a joia africana da coroa dos Sete Cumes, é a montanha isolada mais alta do planeta.
Chegar lá já não é tarefa fácil — e fica ainda mais difícil quando você carrega uma bike de montanha nas costas. O colombiano Daniel Cristancho, ciclista amador e guia de mountain bike, decidiu que queria descer pedalando… mas a única maneira de chegar ao topo é subindo.
Produzido para o One Shot, projeto que reúne fotógrafos e cineastas para capturar imagens impressionantes da natureza, o curta Uhuru é um dos destaques da programação do Rocky Spirit 2025, o maior festival de cinema sobre esportes outdoor do Brasil. O evento acontece nos dias 26 e 27 de setembro, no Posto 10, em Ipanema, Rio de Janeiro (RJ), e reúne filmes espetaculares sobre aventura e o lifestyle outdoor.
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Escalar o Kilimanjaro exige atravessar cinco diferentes zonas climáticas. As encostas mais baixas — antes formadas principalmente por savanas onduladas — hoje são usadas para agricultura e pastoreio em pequena escala. Mais acima, vem a floresta tropical quente e úmida, seguida por um deserto alpino que se estende de cerca de 4.000 a 5.000 metros de altitude. Ali já ficou para trás o verde exuberante e começa um terreno árido, que assa como um forno durante o dia e despenca de temperatura à noite. Quase nunca chove, e a paisagem é árida e rochosa. Superada essa etapa, chega-se a uma tundra ártica que continua até o topo, a 5.895 metros. O chão é coberto de cascalho vulcânico, e geleiras se erguem ao redor. É um desafio e tanto se preparar para isso — especialmente porque o mal da altitude é comum e pode arruinar a experiência.
Cristancho, de 22 anos, nasceu na Colômbia e cresceu no Val d’Aran, na Catalunha. Ele é uma jovem promessa do mountain bike, competindo principalmente em downhill e enduro, e divide a carreira esportiva com o trabalho de guia e instrutor. “Você começa na selva de camiseta e termina no cume com neve, usando jaqueta de plumas e balaclava”, contou Cristancho. “Todos nós estávamos sem fôlego, cada passo era uma lição de humildade: avançando só 20 centímetros por vez, a dois quilômetros por hora. Mas quando chegamos ao cume, a emoção nos fez chorar.”
A aventura começou mesmo no dia de Natal, quando Cristancho recebeu uma ligação de seu amigo cineasta Carlos Farrera. Carlos contou que ele, junto com o também guia de MTB Dani Bosque e o cineasta Jaime Varela, havia dado o sinal verde para a expedição. Eles queriam fazer um filme sobre a jornada, batizado de Uhuru. Para isso, precisariam carregar uma quantidade enorme de equipamentos: quase 25 quilos de material de filmagem — drones, estabilizadores, câmeras, baterias e até um pequeno gerador — além de barracas e comida. Um time de carregadores ajudou no transporte, mas Daniel não largou sua bicicleta em nenhum momento.
Depois de quatro dias de escalada, Cristancho e sua equipe finalmente chegaram ao cume do Uhuru. Embora a subida fosse parte essencial da jornada, era a descida que eles realmente esperavam.
“A descida — o momento mais aguardado — foi tão espetacular quanto brutal”, diz Cristancho. “Dos cenários nevados e vulcânicos no topo até a selva úmida, com raízes e macacos como trilha sonora, foram 26 quilômetros quase totalmente pedaláveis. Um dia e meio de filmagem para registrar as imagens dos sonhos de Dani para a posteridade — e ainda ver girafas, leões, flamingos e elefantes ao sair do Parque Nacional.”
Serviço:
Rocky Spirit 2025 – 15ª edição – Rio de Janeiro
Data: 27 e 28 de setembro de 2025
Local: Praia de Ipanema – Posto 10, Rio de Janeiro
Horário: Das 15h às 20h
Entrada gratuita
Programação:
14h | Abertura
16h15 – 17h | Show
17h – 19h | Exibição dos filmes